Foto acima: Matheus Alves | @imatheusalves
Depois de dois anos de realização remota por conta da pandemia, a 18a edição do Acampamento Terra Livre (ATL) finca as bandeiras dos direitos indígenas ocupando Brasília de 4 a 14 de abril com as cores do jenipapo, do urucum e ao som dos maracás
Desde 2004, o movimento indígena brasileiro articula a maior mobilização dos povos originários do Brasil, o Acampamento Terra Livre. Sob o tema “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”, o ATL de 2022 volta ao Eixo Monumental de Brasília, trazendo a força secular e a diversidade dos povos indígenas para dez dias de luta em defesa dos direitos das populações originárias. A expectativa da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) é de que 8.000 indígenas cheguem ao acampamento nas próximas 24 horas para participar do encontro.
Primeiro dia da Mobilização Nacional Indígena em Brasília. Foto: Matheus Alves
Entre as atividades, debates e plenárias diárias levam as principais bandeiras do movimento para o centro das discussões do evento, na estrutura montada no complexo da Funarte. Demarcação, impactos sofridos pelas populações frente às invasões de seus territórios, a urgência de políticas públicas que assegurem os direitos constitucionais, assim como a questão dos isolados e da saúde e da educação indígena são algumas das pautas de destaque desta edição do ATL. Além disso, apresentações culturais dos mais de 100 povos presentes de todos os biomas do país. A programação completa está disponível em https://apiboficial.org/atl2022/
Demarcando territórios
Na coletiva de imprensa que abriu o primeiro dia de mobilização, as lideranças Sônia Guajajara, Kerexu Yxapyry e Marcos Xukuru reforçaram o enfrentamento das medidas anti-indígenas que estão tramitando nos três poderes. Com impactos desastrosos para os povos indígenas e para toda a sociobiodiversidade, atividades predatórias como o garimpo e a extração ilegal de madeira desencadeiam uma série de violências ameaçando as comunidades. Para o cacique Marcos Xukuru, prefeito de Pesqueira (PE), estes projetos de lei representam violência institucional por parte do Estado brasileiro e destacou a necessidade de denunciar e impedir que estas medidas avancem.Coletiva de imprensa concedida pelas lideranças do ATL. Foto: Juliana Pesqueira/ @apiboficial
São muitas as lutas do movimento indígena no Brasil, diante de tantas ofensivas contra suas vidas, territórios e identidades. Entretanto, a luta pela demarcação de seus territórios ancestrais é prioritária e “mãe de todas as lutas”, como Sônia Guajajara costuma lembrar em suas falas.
“Frente a um presidente que prometeu que nenhum centímetro de terra indígena seria demarcado, temos que lembrar que os que já estão [demarcados], encontram-se em risco. Nós estamos aqui para exigir que os direitos garantidos pela Constituição sejam respeitados. Não vamos recuar!“, garantiu Sônia na coletiva de hoje.
O cacique Xukuru, representando a APOINME (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, MG e ES) saudou as guerreiras que ganham cada vez mais destaque na luta indígena. “É uma satisfação lutar ao lado das companheiras como Sônia, Kerexu e tantas mulheres que assumem o protagonismo nessa luta. Aqui também há muitos jovens, então este também é um espaço de formação, de fortalecimento da luta. É o momento e a hora da grande luta acontecer. Nós estamos prontos! Acreditamos em um projeto de vida e com a força dos encantados, vamos seguir lutando.”, completou o cacique Marcos, que também denunciou a perseguição e a criminalização frequentes de lideranças indígenas.
“A resistência dos povos indígenas vem da perspectiva da demarcação dos territórios, que garante a soberania de cada família, de cada comunidade indígena nesse país. A terra, além de nossa mãe, é moradia de nossos ancestrais e por isso, lutamos pela floresta em pé e seguiremos resistindo.”, Marcos Xukuru. Foto: André Guajajara
Aldeando a política
Outro ponto importante levantado pelas lideranças é a formação de uma bancada indígena na disputa eleitoral deste ano. Com o objetivo de garantir maior representatividade nos espaços da política institucional e fazer frente à bancada ruralista, Sônia falou da importância de eleger outros indígenas para somar nas lutas representadas hoje pela única parlamentar indígena, a deputada federal Joenia Wapichana (REDE/RR).
“É preciso ocupar outros espaços de poder, para que nossas vozes possam ecoar em novas perspectivas. É preciso assumir esse posicionamento na política, nas Assembleias, nas Câmaras, nas Prefeituras, os indígenas precisam estar ali. Já está na hora, já se vão mais de 500 anos!”, disse o cacique do povo Xukuru.
Sônia Guajajara, destacou o papel fundamental dos povos indígenas enquanto guardiões não somente dos territórios mas de toda a sociobiodiversidade existente no que ainda resta de floresta. “Se os nossos modos de vida estão ameaçados, toda a biodiversidade está ameaçada. E se as águas dos rios e a floresta estão ameaçadas, o planeta inteiro está também. Nossa luta é pela vida! ”Kerexu Yxapyry e Soninha Guajajara, da APIB. Foto:André Guajajara /Mídia Índia.
“Nós estamos na luta pela vida não só dos povos indígenas, mas pela vida de todas as pessoas. Nós nunca paramos de lutar, nem durante a pandemia, um momento de muita resistência e enfrentamento diário contra a morte dentro dos nossos territórios.”, lembrou a coordenadora-executiva da APIB, Kerexu Yxapyry, do povo Guarani.
A defesa dos direitos indígenas não é só uma luta dos povos originários, mas de todo o povo brasileiro. Neste momento, enquanto vivenciamos um dos períodos mais hostis às populações minoritárias e à preservação do planeta, os povos indígenas do Brasil consolidam uma linha de frente para enfrentar a batalha contra seus modos de viver onde todo apoio se faz necessário. Apoie, doe, fortaleça a mobilização nacional indígena!