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Mulheres Indígenas na Sociedade
Mulheres Indígenas na Sociedade

Mulheres Indígenas na Sociedade

Ser e estar no mundo como mulher é uma jornada que atravessa camadas subjetivas e políticas. Diferentes identidades se cruzam numa frente ampla e extremamente diversa que é a mulheridade. Por isso, hoje, no Dia da Mulher, queremos exaltar a multiplicidade das mulheres indígenas que estão em muitas linhas de frente na defesa de suas vidas através de seus corpos, territórios e modos de vida há mais de 520 anos.

Selecionamos algumas mulheres indígenas que atuam tanto em suas aldeias quanto fora delas, mostrando ao mundo que a luta contra a opressão é uma luta também de ocupação. Muitas são pioneiras em suas atividades ocupando diversos espaços e tornando-se referência para outras mulheres, indígenas e não-indígenas. Seja em equipes médicas, gabinetes parlamentares, canais de comunicação, associações, empreendimentos, seja integrando equipes criativas, salas de aula, museus, passarelas, o lugar das mulheres é onde elas quiserem e se depender do espírito de luta dessas guerreiras, vai ter ainda mais mulher indígena por aí!

Inspiradas nestas mulheres, em suas histórias e lutas travadas dia a dia há muitas gerações, homenageamos as guardiãs do feminino enquanto sabedoras dos fazeres ancestrais, protetoras e geradoras da vida.

Resistência

Coordenadora da APIB _ Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Soninha Guajajara é professora, técnica em enfermagem e pós-graduada em Educação Especial. Foi a primeira liderança indígena a concorrer em um chapa à Presidência da República em 2018. Aprendeu cedo que era preciso ultrapassar os limites de sua aldeia na Terra Indígena do Araribóia, no Maranhão, para trazer mais informações para seu povo e levar a cultura indígena para o mundo. Sonia é reconhecida no âmbito nacional e internacional pela sua luta incansável pelos direitos dos povos indígenas do Brasil Ser mulher indígena no Brasil é viver um desafio eterno, de fazer a luta, de ocupar os espaços, de protagonizar a própria história. Historicamente foi dito para nós que as pessoas não poderiam ocupar determinados espaços. Então ser mulher indígena é esse desafio permanente de reafirmar a sua cultura, a sua identidade e principalmente o seu gênero.  

“A luta pela terra é a mãe de todas as lutas”. Foto: Federico Zuvire.

Ativismo digital

Alice Pataxó  faz parte de uma nova geração de lideranças indígenas que atua principalmente por meio da mobilização digital. Nascida na Aldeia Craveiro em Porto Seguro, Bahia, palestrante e comunicadora indígena atua como jornalista do Projeto #Colabora além de apresentar o canal Nuhé . Em suas redes, Alice fala sobre diversidade, ancestralidade e resistência a partir de um olhar de descolonização. 

“Não me desejo um feliz dia das mulheres, respeite o meu corpo e o meu território.”, diz Alice em sua conta no Twitter . 


Herança de luta

Maial Paiakan Kayapó  herdou da família a luta pelos direitos do seu povo e a busca por maior equidade de direitos junto às mulheres indígenas. Panhpunu, como foi chamado quando nasceu, traz no nome seu tjwa, avó paterna que se orgulharia muito em ver a neta como A primeira mulher da etnia Kaiapó a sair da aldeia e obter uma graduação. Filha de Paulinho Paiakan, importante liderança indígena que faleceu durante esta pandemia em decorrência do novo coronavírus, Maial tem outro grande exemplo em casa: a tia Tuíre Kayapó, símbolo de resistência indígena e feminina no enfrentamento a favor de seus direitos. “Ela declarou essa voz junto às mulheres do meu povo, cortejou um paradigma das mulheres “mebengokre”(kaiapós), levantando a voz e participando ativamente nas reuniões. Verbalizando em inúmeras vezes que as mulheres estão reivindicando prar, para lutar e que precisam ser ouvidas.” 

“Eu acredito muito na mulher indígena. Pois ela carrega o povo, a natureza, a geração de cultura, e é responsável por tudo isso. Ela mantém o povo e a natureza em harmonia. Que as mulheres continuem na luta, que pensem adiante e tenham força. Porque a luta junto à causa indígena é árdua e não podemos desistir, buscando melhorar, conhecer e seguir o futuro sempre.” Foto: Lilliany Santos/Estação Mulher

 

Protagonismo de vanguarda

A imagem do jovem Tuíre Kayapó encostando um facão no rosto do então presidente da Eletronorte durante uma reunião que discutia a instalação de Hidrelétrica de Belo Monte em 1989 correu o mundo, mostrando a bravura de uma guerreira indígena. Tuíre segue sendo inspiração e referência para as mais jovens na construção de um novo protagonismo feminino indígena nas aldeias, cada vez mais atuante dentro e fora das terras indígenas.  

Tuíre e sua sobrinha-neta Oé Kayapó.

Na foto, Tuíre e sua sobrinha-neta, Oé Kayapó. “O governo não irá nos dividir.” Foto: Amazônia Real.  

Corpo-território

Ativista pelos direitos originários ao território e à sobrevivência de seu povo que habita as margens do imenso rio Tapajós, no Pará, Alessandra Korap Munduruku Foi a primeira mulher coordenadora da Associação Indígena Pariri, que representa as famílias de dez aldeias da região do Médio Tapajós . Em outubro de 2020, Alessandra recebeu um dos mais importantes prêmios para defensores dos direitos humanos em todo o mundo, o Robert F. Kennedy. O reconhecimento de quem vive há anos na luta e nas trincheiras contra a invasão de suas terras por madeireiros, grileiros e todo tipo de ataque. Importante liderança de um povo de tradição guerreira, Alessandra não se intimida diante das ameaças que sofre junto com outros parentes.  

“Muitas vezes nos falamos que nós mulheres não éramos capazes, que nós mulheres não podíamos estar na luta, que não podíamos ficar falando. Mas de repente dissemos: as mulheres têm coragem” Foto: Guilherme Cavalli/Cimi 


Solidariedade

Vanda Ortega  é originária do povo Witoto, e também é professora, técnica em enfermagem e única profissional de saúde indígena do Parque das Tribos, em Manaus. Além de sua atuação enquanto servidor público, ela atua no monitoramento de indígenas com sintomas compatíveis com os do novo coronavírus, enquanto articula um grupo de artesãs na confecção de máscaras e luta pela garantia de atendimento básico de saúde para os indígenas de mais de 35 etnias que habita o bairro indígena Parque das Tribos. Graças à luta de Vanda e outras mulheres indígenas, foram abertas duas alas indígenas dentro do hospital de campanha.

“A nossa geração é uma geração de sobreviventes. Até aqui a gente tem lutado para que nossas vidas se mantenham, que nossos territórios se mantenham, que nossa floresta se mantenha. Lutar por todos esses aspectos, por esses elementos sagrados e esses seres sagrados, que representam a sobrevivência dos povos indígenas.”  Foto: Christian Braga.


A 'consertadora' de gente

Myrian Veloso  ou Krexu, na língua Guarani – é indígena do povo Guarani Mbya e também a primeira médica-cirurgiã Guarani a se formar no Brasil. Aos quatro anos se encantou com a medicina, descrita pelo pai como o ato de retornar gente, Myrian hoje integra a equipe do Instituto de Neurologia e Cardiologia (INC) de Curitiba. Nascida na Terra Indígena Rio das Cobras, Paraná, Myrian diz que quando está na aldeia sente que nunca saiu de lá, aproveitando suas visitas para atender como médico as famílias de sua comunidade.

“Carrego comigo todos os dias minhas raízes indígenas, ainda que as pessoas se surpreendam ou até se assuntem com uma médica indígena”.

Representatividade e pioneirismo

A advogada Joênia Wapichana é a primeira mulher indígena no Congresso e sua trajetória é marcada por importantes aberturas no caminho da representatividade indígena. Eleita deputada federal pelo estado de Roraima em 2018, a eleição de Joênia representa uma importante conquista para o movimento indígena que desde o mandato do Xavante Mário Juruna nos anos 80 não ocupou uma carga no legislativo. Joênia Wapichana também foi a primeira mulher indígena a se formar em Direito no Brasil, em 1997, pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e conquistou o título de mestre pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Joênia também foi a primeira advogada indígena a compareceu perante o Supremo Tribunal Federal (STF), durante o julgamento que definiu a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), em 2008, sendo nomeada primeira presidente da Comissão Nacional de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas.  

O Dia da Mulher é mais um dia para refletir do que para comemorar”, afirma Wapichana.  Foto: Câmara dos Deputados


Empreendedorismo

Marciely Ayap Tupari  é empreendedora e indígena do povo Tupari, que mora no Sul de Rondônia. Marciely nasceu em Guajará-Mirim e cresceu na Terra Indígena Rio Branco. Em 2015, sua mãe, Leonice, fundou a Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (Agir) e desde então, ao lado dela, Marciely vem buscando fortalecer o protagonismo da mulher indígena à frente da loja TECÊ-AGIR, que comercializa artes indígenas de mais de 50 povos.

Literatura e narrativas

Churiah Puri é o nome indígena de Aline Pachamama , da etnia Puri. Historiadora, escritora, ilustradora e fundadora da Pachamama Editora, formada por mulheres indígenas, Aline é Doutora em História Cultural pela UFRRJ Mestre em História Social pela UFF. Faz parte da liderança coletiva do Povo Puri da Mantiqueira e do Coletivo de Mulheres Puri Inhã Uchô. 

“Apesar da violência simbólica de uma história escrita na matriz colonizadora, a história oral dos povos originários persiste.”


Visibilidade

Auá Mende é uma artista indígena da etnia Mura. Graduado em Tecnologia em Design Gráfico pela Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO atualmente é Mestranda em Design pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Ilustradora, designer gráfica, grafiteira e performer, Auá trabalha em suas narrativas a luta contra a invisibilidade negra, indígena e transgênero.


“Meu corpo é minha voz, é minha casa, é minha história, é meu território. Compreensão que se construiu cada vez que mergulhou em mim mesma, entendendo que os livros não me contaram. Mas foi algo que eu construí.  Foto: Léo Faria

Arte-ativismo

Naine Terena  possui graduação em comunicação social pela UFMT, mestrado em artes pela UnB e doutorado em educação pela PUC-SP. A artista, educadora e ativista indígena também é pesquisadora e atualmente é curada uma exposição inédita Na Pinacoteca de SP dedicada à produção indígena contemporânea, com a presença de 23 artistas/coletivos de diferentes regiões do país. Naine defende a arte como plataforma de ativismo e socialização, dialogando com a literatura, as artes visuais e performáticas como forma de valorizar a diversidade dos povos indígenas e difundir seus saberes, histórias e existências.

“A importância da presença de indígenas na Academia é poder trazer outros conceitos diferentes do que já estão postos.”  Foto: Ahmad Jarrah.

Moda

A questionadora, ativista e estilista Dayana Molina , impõe sua luta por representatividade e produção de conteúdos decoloniais em espaços criativos. Há 12 anos na indústria da moda, criei a tag #descolonizeamoda para proporcionar maior reflexão e protagonismo de criativos indígenas na moda. Em suas campanhas, Dayana traz novas perspectivas, dando espaço e garantindo visibilidade às pessoas indígenas no movimento de desconstruir o padrão eurocêntrico e valorizar as raízes indígenas brasileiras. Dayana foi idealizadora do lindíssimo ensaio Pindorama, feito para Tucum e composto por uma equipe 100% indígena. 

O mundo é maior e mais plural do que podemos imaginar. precisamos falar de um mundo onde caibam todos os mundos. Por isso não existirá diversidade sem representatividade. E representatividade sem oportunidades, é inviável. Se a moda é sobre comportamento e humanidade, não se pode mais tolerar uma moda desumana, racista e excludente.”  Foto: David  @studiodavidarrais

A Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA)  é uma grande articulação de Mulheres Indígenas de todos os biomas do Brasil, com saberes, com tradições, com lutas que se somam, convergem, que uniram mulheres mobilizadas pela garantia dos direitos indígenas e da vida dos nossos Povos. A ANMIGA nasce hoje, no Dia Internacional da Mulher para marcar a data como um dia de luta, de resistência e de união. Com o tema “As originárias da terra, a mãe do Brasil é indígena”, a Anmiga promove uma agenda de debates ao longo do mês que marca a luta por igualdade de gênero. A cada semana de março, mulheres indígenas de todos os biomas brasileiros se reúnem para discutir temas como questões identitárias, sustentabilidade, violência e privacidade de direitos. A programação completa do mês pode ser conferida no site: anmiga.org. Os encontros online serão transmitidos nas redes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil ( @apiboficial ), Mídia Ninja ( @midianinja ) e Mídia Índia ( @midiaindiaoficial ). Conheça, compartilhe, fortaleça o movimento das mulheres indígenas. Juntas somos sempre mais fortes!

Abril indígena – por Alice Pataxó
Novos desafios indígenas na pandemia

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