Estudo da Ferrogrão não faz consulta prévia e ignora desmatamento e riscos para povos indígenas
Moradores da área afetada já sentem os impactos causados pelos portos do rio Tapajós - Vitor Shimomura/Brasil de Fato
Os pareceres apresentados por especialistas na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) indicam que os impactos ambientais e sociais da Ferrogrão (EF-170) foram subestimados pelo estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental (EVTEA) divulgado pelo Ministério dos Transportes. O desmatamento e a remoção de comunidades tradicionais são algumas das consequências subdimensionadas no documento oficial. A ferrovia, que ligará Sinop (MT) a Itaituba (PA), será um forte indutor de destruição ambiental, ao atrair novas atividades econômicas e intensificar o cultivo de soja, especialmente no Mato Grosso e na região do Planalto Santareno, onde o desmatamento já cresce rapidamente.
Além dos danos ambientais, a Ferrogrão impactará diretamente comunidades indígenas e tradicionais, que não foram consultadas durante a elaboração do projeto, em desacordo com a Convenção 169 da OIT. Indígenas da região de Itaituba e Santarém denunciam que já enfrentam os efeitos da expansão agrícola e do transporte de grãos, como a contaminação dos rios e a perda de biodiversidade. Para essas populações, a ferrovia representa um risco ainda maior, pois pode abrir caminho para outros empreendimentos, como hidrelétricas e hidrovias, agravando a degradação ambiental e a expulsão de comunidades locais.
Diante desses impactos, pesquisadores e organizações da sociedade civil recomendam uma revisão mais profunda dos estudos ambientais e maior participação da sociedade no debate sobre a viabilidade do projeto. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) afirma que os estudos estão em atualização e que medidas socioambientais serão implementadas, mas lideranças indígenas e especialistas contestam a falta de diálogo e a ausência de medidas eficazes para mitigar os danos. O projeto da Ferrogrão não é apenas uma obra de infraestrutura, mas parte de um processo que pode causar mudanças irreversíveis na Amazônia e na vida das populações tradicionais que dependem da floresta e dos rios para sobreviver. Fonte: Brasil De Fato
Quem foi Luiz Lana, escritor indígena que eternizou mitologia dos Desana
Luiz Lana foi autor do livro "Antes o Mundo Não Existia" (Composição: Lucas Oliveira/Cenarium)
Luiz Gomes Lana, conhecido como Tolamãn Kenhíri, foi um escritor e liderança indígena do povo Desana, reconhecido por registrar e difundir a mitologia de sua etnia. Nascido em 1947 na Terra Indígena São João Batista do Rio Tiquié, no Amazonas, ele dedicou sua vida à valorização do conhecimento tradicional e à luta pelos direitos dos povos indígenas. Sua obra mais conhecida, Antes o Mundo Não Existia, lançada em 1980, tornou-se um clássico da antropologia brasileira, sendo um dos primeiros livros publicados por autores indígenas no país.
Além de sua contribuição literária, Lana teve um papel fundamental na organização política e cultural dos povos indígenas do Alto Rio Negro. Em 1990, fundou a União das Nações Indígenas do Rio Tiquié (Unirt) e foi um dos idealizadores da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), trabalhando pela autonomia e proteção dos direitos das comunidades indígenas. Sua atuação foi reconhecida por diversas instituições, que destacaram seu esforço na preservação da oralidade e do conhecimento ancestral.
O falecimento de Tolamãn Kenhíri, aos 77 anos, foi lamentado por organizações indígenas e lideranças, incluindo Ailton Krenak, que celebrou seu legado. Seu livro, traduzido para diversas línguas, segue como referência na valorização das narrativas indígenas, e um documentário sobre sua obra estava em produção antes de sua morte. Ele deixa a esposa, Catarina Castro, do povo Tukano, e cinco filhos. Sua memória permanece viva na cultura e na resistência dos povos indígenas do Brasil. Fonte: Revista Cenarium
Célia Xakriabá é eleita presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher
Célia Xakriabá, eleita presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher
A deputada Célia Xakriabá (Psol-MG) foi eleita presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, tornando-se a primeira mulher indígena a ocupar o cargo. Com 15 votos e sem oposição, ela substitui Ana Pimentel (PT-MG) e pretende focar no combate ao feminicídio, destacando o aumento alarmante da violência contra mulheres indígenas nos últimos anos. Além disso, Xakriabá pretende priorizar a pauta das mudanças climáticas, ressaltando seus impactos na vulnerabilidade social de mulheres agricultoras e quilombolas.
Professora e ativista do povo Xakriabá, Célia foi a primeira mulher indígena eleita deputada federal por Minas Gerais em 2022, com forte atuação na defesa da demarcação de terras e da educação indígena. A Comissão que ela preside tem a função de investigar denúncias de violência contra mulheres, fiscalizar políticas públicas de proteção e promover o empoderamento feminino, além de acompanhar a saúde materno-infantil, especialmente em áreas mais carentes do Brasil. Fonte: Agência Câmara de Notícias